quinta-feira, 28 de julho de 2011

Sonho de creme.

[...]Fez-se escarlate, olhou um olhar desconcertado, deu um meio sorriso de meio segundo, trêmulo, piscou os olhos com urgência, virou-me as costas e foi, viciada nas juntas de cimento entre as pedras escuras do chão. E como num sonho, eu pude sentir nitidamente o seu abraço se revelando numa solução alcalina à base de metol, suspensa na atmosfera de um outro mundo, transferido para a caixa onde guardo meus desejos mais latentes.
Pelos seus olhos emoldurados pelas sobrancelhas tristes, eu senti seu abraço materializado em minha frente, exteriorizado pelo seu impulso ínfimo de sorrir um sorriso que esboçava apenas alguns milésimos do tempo de duração do projeto de sorriso provocado no seu interior.
Enfim, sonhos são perigosos.

sábado, 23 de julho de 2011

Tempo do Abalone.

Numa seda escrevi seu nome em aquarela vermelha.
Traguei sua boca, suas vidas, abelha rainha.
Te desenho no meu rosto com sementes de urucum, gravando seus traços nos meus.
Depois te sopro na fumaça, e você voa assim, sem rumo.
Coruja do Leste, se desfaça antes que eu feche os olhos meus de Lua
Pra te guiar nas noites frias, pelas matas, nossos mundos
Ou te perca nas tuas ruas, e me encontre em suas runas
Então olha, moça bonita: Esse anel contém o mar.
Mergulhe no abalone, e nele se reflita, que eu sustento a palavra de mulher
E me corôo com seu nome de cigana.