sábado, 1 de maio de 2010

O bêbado e a garçonete.

Quinto dia seguido que aquele homem da barba cerrada e malfeita tomava café da manhã naquela padaria próxima ao mercado municipal, e me contava sobre suas histórias de amor, desacerto com moça.
Mesas próximas às janelas, rodeadas de bancos para dois, estofados e estampados com um xadrez morto, e em volta do balcão, bancos altos e reluzentes de verniz para apressados e bêbados que vagam pela insônia das ruas à noite.
Ele estava de olhos presos à garçonete, e não comentava nada, como se eu já não soubesse sobre seu interesse pela moça, de aproximadamente 26 anos. Olhos cálidos, braços nus e frescos, combinando com a brisa que afagava os cabelos espessos do homem. Provavelmente era casada, era notável a aliança cor-de-sol que enfeitava grosseiramente suas mãos finas e seus dedos longos, que se estendiam até os pensamentos de meu colega de mesa pintor.
Houve o dia em que o cigarro entre seus dedos dançava trêmulo, levemente disfarçado pela fumaça audaciosa que voava de carona com o vento em direção à janela. Ele me fitou friamente, e disse:
- Sabe, não costumo me importar com esse tipo de coisa, mas acho que a garçonete é minha esposa que não me vê há alguns anos. Se não me engano, ela já me notou. Melhor trocarmos de padaria.

Marina foi pro mar.

Marina, jornalista redatora, 28 anos, moradora de um apartamento no Leblon.
Olhos fundos, verde-claros, meio azulados quando a lua refletia. Rosto quadrado, queixo pequeno, e lábios finos, tão bonitos quando se apertavam para espalhar o batom vermelho!
Um metro e cinquenta e sete de pura crítica social e descrença no amor, por consideráveis decepções.
Virginiana, nascida em Setembro, cumpria sem perceber, todas as características que o alinhamento dos astros lhe proporcionava. Extremamente organizada, sistemática, e quase tão fria quanto as porções de mar que carregava em seus olhos para transbordar em seus momentos de fragilidade.
Numa quarta-feira, Marina estendeu uma esteira de palha sintética sobre a areia de Ipanema, e escrevia sua coluna semanal.
A maré subiu barulhenta, e chegou a acariciar seus pés frios.

Marina lembrou-se do seu futuro vazio e foi pro mar.