segunda-feira, 28 de novembro de 2011

A Imperatriz.

Moça atriz dos olhos Junhos.
Imperatriz dos meus sonhos, mergulha nas águas revoltas dos meus olhos castanhos.
Ancorei meu ar nas ondas dos teus cabelos, mares vermelhos revoltos.
Te amei muito antes dos navios negreiros alçarem vôo às estrelas,
Te fiz minha antes do amor existir,
Me fiz tua antes do primeiro anjo cair.
Traz em mãos todos os encantos
És rainha envolta no manto de fases da lua que bordei num setênio, esperando o milênio passar para enfim, te reencontrar, e chorar minha saudade em seus ombros largos, fardados de sardas, te cobrir de jaspes e desejos de madrugadas, despejar meus lábios em ti.
Ouvi dizer que nosso amor invadia até o coração dos ateus que te queimaram na fogueira por medo de crer na força que gira o mundo, e não se vê.
Sou aprendiz da eternidade, e nada sei sobre os mistérios da vida, e nem quero saber.
Nada sei sobre minhas missões ou sobre quais mundos meus pés viajarão.
Não sei se vais embora amanhã, ou se és tardia.
Apenas sei que não seguirei nenhum conselho, nenhum guia
Que me impeça de amar-te até o fim dos meus dias.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Prece ao amor.

Deu-se o encontro e eu quis duvidar que foi pela urgência de a gente se achar.
Teu olhar veio elíptico, e ao mesmo tempo nítido, me fez hesitar.
Veio feito a luz no escuro de uma noite por raiar, cintilando numa estrela, sorrateira, dizendo ser derradeira, a me encantar.
O que de mal lhe for feito caberá a mim em perfeito dom de repudiar, e afastar tudo o que possa, mesmo vindo do fraco, te atravancar.
Que os meus castos braços possam ser a firmeza que te dará a certeza de sempre vencer, tornando-te mais do que invencível.
Que as minhas forças se unam às tuas, fazendo à nossa volta um escudo brilhante, como os meus olhos quando miram os teus, para que nada de fora nos alcance diante da delicadeza do que for só nosso.
Que seu vasto abraço permaneça quente a me envolver a cada fim de dia que possamos dividir, e diante do nosso sossego, que o mais puro fogo invada o quarto e nos faça queimar em devoção, até que nosso descanso se derrame, placidamente, feito chuva de verão em nosso leito.
Que não deixemos de ter asas, que não deixemos de voar livremente, e que rasguemos os quatro ventos, mas que voemos para o mesmo destino, sendo nosso canto em alegria, trilha sonora dessa vida, e que na vida eu te dê sorte.
Que saudemos a Lua e o Sol, que sejamos nosso impulso, nosso ímpeto, e nossos princípios.
Que não tenhamos medo de perecer, para que a intensidade da entrega se embrenhe em nossos dias.

Que sejamos água e sal, para juntas formarmos um oceano.
Que sejamos duas, para juntas formarmos nós.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Milagreiro.

Um poeta sentado na pedra mais alta de uma praia sem nome, ouve as canções que um búzio lhe sussurra, olha debaixo d’água turva, uma sereia sem dono, num sono profundo, iluminada pelo reflexo do seu anel, coberta por um lençol de sal.

Um pintor sentado num bar de esquina, com os olhos embaçados de lágrima, toma café preto, numa manhã nublada, e vê o rosto de uma mulher pintado com borra no fundo da xícara, e sente cheiro de almíscar pelo ar.

Um pescador de pé, em frente ao seu leme, desembola a rede, e uma onda bate forte na madeira pintada, já descascada de seu barco, molha seus braços morenos, embaça sua vista, e derrama uma concha entreaberta em sua rede, e no avesso da concha há um espelho em azul que reflete cabelos compridos de cores fundidas, em movimento, dançando no vento, iluminados pelo brilho de uma pérola.

Um florista dorme na rede e desperta no meio da noite com o cheiro das flores, coberto de orvalho, e de chuva, e se assusta com a Lua, que brilha e ofusca sua vista, e de olhos fechados ele vê duas mãos num piano tocando uma música que roga a alguém para que o alguém não se vá.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Sonho de creme.

[...]Fez-se escarlate, olhou um olhar desconcertado, deu um meio sorriso de meio segundo, trêmulo, piscou os olhos com urgência, virou-me as costas e foi, viciada nas juntas de cimento entre as pedras escuras do chão. E como num sonho, eu pude sentir nitidamente o seu abraço se revelando numa solução alcalina à base de metol, suspensa na atmosfera de um outro mundo, transferido para a caixa onde guardo meus desejos mais latentes.
Pelos seus olhos emoldurados pelas sobrancelhas tristes, eu senti seu abraço materializado em minha frente, exteriorizado pelo seu impulso ínfimo de sorrir um sorriso que esboçava apenas alguns milésimos do tempo de duração do projeto de sorriso provocado no seu interior.
Enfim, sonhos são perigosos.

sábado, 23 de julho de 2011

Tempo do Abalone.

Numa seda escrevi seu nome em aquarela vermelha.
Traguei sua boca, suas vidas, abelha rainha.
Te desenho no meu rosto com sementes de urucum, gravando seus traços nos meus.
Depois te sopro na fumaça, e você voa assim, sem rumo.
Coruja do Leste, se desfaça antes que eu feche os olhos meus de Lua
Pra te guiar nas noites frias, pelas matas, nossos mundos
Ou te perca nas tuas ruas, e me encontre em suas runas
Então olha, moça bonita: Esse anel contém o mar.
Mergulhe no abalone, e nele se reflita, que eu sustento a palavra de mulher
E me corôo com seu nome de cigana.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Lolita

Amanhã vai ter festa, estarei exposta
Vou amarrada, contrariada, e transposta
Pelo seu encanto, que tranca meu pranto e faz morigerar humor
Ai, amor
Bem que eu queria guardar meu receio em casa
Mas já que vou, rodo minha saia,
bato o pé no chão, marco presença
Vou me impregnar na sua mente,
subliminarmente
Amanhã sou vaidosa indecente
Pra te incomodar,
te amarrar contrariada, e oposta
me fundir leve, e líquida no seu mar.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Âncora

Eu quero
Quero mais que muitas coisas
Mas é incabível, é delírio
Chega de insistir, revestir o quarto com páginas do livro
Pra que esse desgaste, esse desgosto?
Pra onde vai o mel desperdiçado?

A gente se desgasta, não tem jeito
E o desgosto vem, mesmo, sem respeito
Vem do oposto não querer
E o oposto não querendo a gente sente

Que o desgaste vai servir pra desviar meus olhos dela
Que o desgosto vai tirar o gosto ruim da minha boca
Que o mel vai vir adoçar a amargura das manhãs pós-sonho-de-você.

domingo, 24 de abril de 2011

Lagoa submersa.

Minha flor, nascida num vão do mundo
Flor de lótus, por vezes lota meus olhos de brilho
Maria-sem-vergonha, dissipa em suas cores a coragem de amar
Margarida sem graça, por vezes me encontra num sono profundo

Dama da noite, derrama seu perfume sobre as flores dormentes
Embriaga o céu, escurecida pelo rancor do sol, pois mentes
Mentes, e eu não pude encobrir suas mentiras
Ainda assim, por mais insolente que sejas
És minha flor.

E sendo minha flor, eu convenço o sol a te nutrir
E pondero a chuva a deslizar sobre seu mal-me-quer
Mesmo que de sonhos tenhas desistido e pra janela não queiras ir
Contemplo a amargura do seu tom frio, jasmim de pedra.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Carta para meu eu lírico.

Olha, ainda é cedo.
Tem muita estrada por aí, e você não vai conseguir andar por todas.
E se for tarde, tem muita gente que vai andar pelas estradas que você não vai andar.
Não se preocupe com as estradas.
Preste atenção no que eu tenho a dizer.
Você não é louca, só é artista.
Mas me desculpe por te fazer criar tantas maravilhas, elas são belas pra quem lê, pra quem ouve, e vê. Provocam mil sonhos, e noites mudas. Cegam os outros olhos por um dia, mas e você?
Você vive de arte.
Escuta só: mil perdões por ter tapado seus ouvidos quando a conseqüência pediu um minuto da sua atenção.
Pensando bem, não faça disso uma ventania desvairada.
Pegue esses papéis dessa tua história, e faça deles, aviõezinhos. Mande pro mundo todo.
Transforme tudo em música.
Plante verdade, chega de ilusões, por favor.
Agora durma, e sonhe ao som do tilintar do senhor dos ventos.

domingo, 17 de abril de 2011

Canção pra não cantar.

"Minha pequena, minha doce e amada irmã
Como eu queria te abraçar toda manhã

Saudade envenenada me faz ouvir o seu CD
Mente ingrata, na distância, não te vê

Quando de tarde penso em ti nesta cidade
Aperta o peito e o silêncio vira grade

Nesta prisão que a tua ausência me condena
Sinto sua falta, mesmo quando ela é pequena

Moça bonita, de pés pequenos e olhos brilhantes
Que não conseguem ficar dois dias sem chorar

Enfrente a vida, que ela é aventura errante
E o meu amor é proteção pra te afagar

Sorriso terno e uma mente embriagada
Busca em todos sua primeira namorada

Não imagino a minha vida sem você
Até no silêncio, até no quarto sem TV

Quando quiser me ter contigo, mesmo de longe
É só pensar, que na mesma hora vou saber

Que o meu bebê merece todo o meu carinho
E que a vida é mais bonita com você"

Fernanda Marini C. Buck

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Blefe do inconsciente.

A luz fraca da lua e das luzes de trânsito livre alternavam a iluminação do seu rosto, dos seus olhos abertos querendo secar as lágrimas ainda não derramadas. O nó na sua garganta me entrelaçava na sua vida, como se não houvesse volta. Você não pôde dizer nada, pois não tinha voz firme, não podia dizer o que realmente pensava, apesar de não ser necessário.
Assim, uma lágrima deslizou pelo seu perfil, destrancando mais duas atrás, fazendo seus lábios tremerem, apertando-se um no outro quando eu coloquei minha mão sobre a sua, sempre muito quente.

E então você mudou a marcha, furiosa.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Redemption Songs

Levanta-se a saia e os olhos ficam mais verdes.
Os campos são repletos de clareiras, e delas o mundo se expande.
E da fraqueza aproveita-se os silêncios.
Das músicas saem nuvens, e nuvens.
E ventos de explosões marítimas, dogmas no mundo sem leis.
Contradições na boca dos que olham de rabo de olho a escória do mundo, e o resultado do podre poder racional.
A guitarra acusticando o senhor dos ventos, e acalmando os lustres humanos que vagam pelas ruas como fantasmas, presos ao pragmatismo da vida que lhes foi imposta.
Abaixa-se a saia, e os olhos enxergam, do alto, a cidade branca e preta.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Intransitivo.

Não quero compaixão, palavras leves, tecidas, bordadas.
Por isso não te conto.
Não te falo, não te quero, te dispenso.

Quero suas verdades, seus segredos e planos
Quando eles encaixarem nos meus
Você sabe que eu quero
Seus olhos nos meus, meus lábios nos teus
Nossa vida, nossa casa, nosso tempo.

Por isso eu espero. Por isso eu sustento. Porém não divido.
Por isso te deixo, por isso não cabe, por isso dói.

Por isso te deixo viver. Porque você sabe...
Você sabe o quanto.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Letras nos lençóis.

Vai chegando o finzinho do meio da madrugada e seus olhos vão pesando, seu corpo vai formigando quando você se arremessa de cima de mim pro lado meu, lado seu na cama, e você dorme um sono pesado, e dorme tão bem que sonha que está sonhando, e nesse sonho você se vê dizendo que me ama, mais que todas as mulheres do mundo.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Room on fire.

Alisava meu cristo redentor, junto aos outros dois pingentes de prata escurecidos pelo tempo, que, subitamente, escorregaram dos meus dedos quando você abriu os olhos após ter dormido um sono de pétalas.
Despertou levemente, preocupada com o horário, levantou-se, passando os dedos por minhas pernas, de cima pra baixo, e chegando nos joelhos, caminhou até a escrivaninha, e acendeu o abajur. Se pôs à frente do que estava aprontando ali, com caneta e papel.
- Sempre tive a impressão de que você fosse canhota, mesmo sabendo que não. Te imaginava escrevendo minhas cartas com a mão esquerda.
Você não respondeu, e meus pingentes, junto à gargantilha gelavam meu corpo, cada vez mais, conforme você escrevia linhas, e linhas, das quais eu não imaginava do que se tratavam.
Talvez citasse fatos estranhos, como o de usarmos o mesmo perfume, sem dividir uma casa. Ou escrevesse sobre como a vida voa diante de nós, enquanto vivemos depositando felicidade em alguém que vai passar. Ou questionasse os motivos que nos foram impostos para não compartilharmos uma vida, tendo a estranha sensação de que tudo o que não está ao alcance, parece melhor, ou sobre a perturbadora sensação de que vai ter dificuldades em partir, depois dos nossos orgasmos cicatrizando qualquer hematoma deixado, ao mesmo tempo, nos mesmos estágios de intensidade, primeiro crescendo, e ateando fogo no quarto, e depois se apagando, com um sopro de brisa vindo da fresta da janela.
- Esqueça isso de tentar se explicar, nos explicar.
Nossos cílios, então, entrelaçaram-se, e nossos lábios atearam fogo ao mundo.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

20/07/10

Não há conversa que me esclareça, nem silêncio que te esqueça.
Não há perdões para as desculpas decoradas, ou para as novas inventadas.
Não sei, mas eu acho que me perdi nas palavras das músicas de notas tristes.
Me anulo para tentar lembrar de algum diálogo que possa ter sido menos cínico de ambas as partes.
Você se aproveita das minhas fraquezas para se sentir superior, expondo-as anonimamente, só pra você.
Julga-me baixinho antes de dormir, para o sal não banhar seu rosto?
Para não pensar que eu posso estar certa em relação às minhas últimas atitudes, e silêncios.
Para não pensar nas minhas razões, justas, ou não, como preferir.
Não sabe o esforço que eu faço para sair de casa sem sentir sua mão se esquivando da minha.
Mudo de cidade, para não ver nossas pegadas secas nas calçadas do meu cotidiano, para não ter viva uma lembrança do seu último beijo friamente desperdiçado.
Posso ter te deixado um dia, dois, ou mais. Mas também me deixaste, por orgulho, por medo, não sei, não estou em você para saber agora. Se é que algum dia estive.
Digo que há um abismo enorme entre nós, mais do que nunca, me aliviando às vezes que me pego te querendo ainda.
Mas fico apavorada quando lembro que de ouvir sua voz sentia seu cheiro, sem nunca ter sentido, e de sentir seus suspiros em sonhos, provava o gosto da tua boca sem nunca ter beijado. Me apavora lembrar que meus sentidos confirmaram todos os vestígios teus. Me faz crer que preciso parar de pensar que não somos por acaso.
Me faz crer que não quero mais lembrar dos seus olhos de criança atravessando minha alma.
E de pensar que apesar de tudo o que você é, e foi para mim, ainda te vejo sentada num degrau da escada do futuro com as pernas agitadas, fecho com urgência meus olhos negando qualquer fio de esperança.
Quero pegar um trem para a noite em que você me ligou pela primeira vez, quando fomos pela primeira vez às estrelas, e a partir daí, mudar algumas falas.

Quero pegar meu lugar no futuro, sentar no meu sofá, e te telefonar.