sábado, 1 de maio de 2010

O bêbado e a garçonete.

Quinto dia seguido que aquele homem da barba cerrada e malfeita tomava café da manhã naquela padaria próxima ao mercado municipal, e me contava sobre suas histórias de amor, desacerto com moça.
Mesas próximas às janelas, rodeadas de bancos para dois, estofados e estampados com um xadrez morto, e em volta do balcão, bancos altos e reluzentes de verniz para apressados e bêbados que vagam pela insônia das ruas à noite.
Ele estava de olhos presos à garçonete, e não comentava nada, como se eu já não soubesse sobre seu interesse pela moça, de aproximadamente 26 anos. Olhos cálidos, braços nus e frescos, combinando com a brisa que afagava os cabelos espessos do homem. Provavelmente era casada, era notável a aliança cor-de-sol que enfeitava grosseiramente suas mãos finas e seus dedos longos, que se estendiam até os pensamentos de meu colega de mesa pintor.
Houve o dia em que o cigarro entre seus dedos dançava trêmulo, levemente disfarçado pela fumaça audaciosa que voava de carona com o vento em direção à janela. Ele me fitou friamente, e disse:
- Sabe, não costumo me importar com esse tipo de coisa, mas acho que a garçonete é minha esposa que não me vê há alguns anos. Se não me engano, ela já me notou. Melhor trocarmos de padaria.

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