terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Room on fire.

Alisava meu cristo redentor, junto aos outros dois pingentes de prata escurecidos pelo tempo, que, subitamente, escorregaram dos meus dedos quando você abriu os olhos após ter dormido um sono de pétalas.
Despertou levemente, preocupada com o horário, levantou-se, passando os dedos por minhas pernas, de cima pra baixo, e chegando nos joelhos, caminhou até a escrivaninha, e acendeu o abajur. Se pôs à frente do que estava aprontando ali, com caneta e papel.
- Sempre tive a impressão de que você fosse canhota, mesmo sabendo que não. Te imaginava escrevendo minhas cartas com a mão esquerda.
Você não respondeu, e meus pingentes, junto à gargantilha gelavam meu corpo, cada vez mais, conforme você escrevia linhas, e linhas, das quais eu não imaginava do que se tratavam.
Talvez citasse fatos estranhos, como o de usarmos o mesmo perfume, sem dividir uma casa. Ou escrevesse sobre como a vida voa diante de nós, enquanto vivemos depositando felicidade em alguém que vai passar. Ou questionasse os motivos que nos foram impostos para não compartilharmos uma vida, tendo a estranha sensação de que tudo o que não está ao alcance, parece melhor, ou sobre a perturbadora sensação de que vai ter dificuldades em partir, depois dos nossos orgasmos cicatrizando qualquer hematoma deixado, ao mesmo tempo, nos mesmos estágios de intensidade, primeiro crescendo, e ateando fogo no quarto, e depois se apagando, com um sopro de brisa vindo da fresta da janela.
- Esqueça isso de tentar se explicar, nos explicar.
Nossos cílios, então, entrelaçaram-se, e nossos lábios atearam fogo ao mundo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário