quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Milagreiro.

Um poeta sentado na pedra mais alta de uma praia sem nome, ouve as canções que um búzio lhe sussurra, olha debaixo d’água turva, uma sereia sem dono, num sono profundo, iluminada pelo reflexo do seu anel, coberta por um lençol de sal.

Um pintor sentado num bar de esquina, com os olhos embaçados de lágrima, toma café preto, numa manhã nublada, e vê o rosto de uma mulher pintado com borra no fundo da xícara, e sente cheiro de almíscar pelo ar.

Um pescador de pé, em frente ao seu leme, desembola a rede, e uma onda bate forte na madeira pintada, já descascada de seu barco, molha seus braços morenos, embaça sua vista, e derrama uma concha entreaberta em sua rede, e no avesso da concha há um espelho em azul que reflete cabelos compridos de cores fundidas, em movimento, dançando no vento, iluminados pelo brilho de uma pérola.

Um florista dorme na rede e desperta no meio da noite com o cheiro das flores, coberto de orvalho, e de chuva, e se assusta com a Lua, que brilha e ofusca sua vista, e de olhos fechados ele vê duas mãos num piano tocando uma música que roga a alguém para que o alguém não se vá.

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